quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

FELIZ NATALLLL!!!


NATAL

Um homem
De Neanderthal
Roubou a minha árvore
De Natal

E o Papai Noel
Vejam bem
Está no céu
De refém

E o peru
Ouçam o que eu digo
Foi comido
Ainda vivo

O meu Natal
Foi pro espaço!
E agora?
O que eu faço?

terça-feira, 24 de novembro de 2009


CANETA

Uma caneta
Na minha mão
É como bala
De canhão

É faca
Arma branca
Mata
Machuca
Maltrata
Espezinha
Destrata
Arranha
Intimida
Assanha
Estapeia
E apanha...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Por Acaso


Eles não se viam há tempos e se encontraram meio que por acaso.

Deus havia resolvido premiá-los, já que ela havia feito as pazes com a mãe e ele havia largado o cigarro.

A quantidade de pessoas que transitava pela rua quase fez com que não se reconhecessem.

Ele andava apressado, tinha uma consulta médica.

Ela falava com alguém ao celular, mas tratou de logo encerrar a conversa para poder cumprimentá-lo.

Sorriram, se abraçaram, perguntaram um ao outro como ia a vida.

Responderam ambos que a vida ia bem – e corrida. “Ah, que vida é essa, não temos tempo para mais nada!”.

Ele disse que tinha um compromisso, com ar de mistério. Preferiu não dizer que os seus rins estavam lhe matando e iria ao urologista para ver o que fazer.

Ela completou que o seu horário de almoço também estava no final, precisava ir. No seu escritório era assim, “todo mundo cuidando da vida de todo mundo”.

Comentaram sobre tomar um café um dia desses, algo que sempre falavam, mas nunca faziam.

Ele seguiu caminhando em direção ao consultório, sem muita convicção de que a consulta seria mesmo necessária: já não sentia aquela dor.

Ela, ao contrário do que havia dito, tinha acabado de sair do escritório, mas já não sentia fome. Sorridente, trocou o almoço por um delicioso sorvete de creme, seu sabor favorito.

O dia prosseguiu bem para os dois.

Ele se sentia leve.

Ela se sentia feliz.

E haviam sido só uns três minutos de conversa.

“Questão de energia”, elocubrou ela.

“Ela não pode nem sonhar com isso”, pensava ele.

Os dias se passaram e a dor dele voltou.

O mau humor dela também.

Ele retornou ao médico, que lhe receitou uns tarja pretas.

Ela se entupiu de batatas fritas nos cinco almoços que se seguiram.

Nenhum dos dois tomou a iniciativa de marcar o café.

Ele achava que tinha que disfarçar.

Ela achava que era ele quem tinha que ligar.

Ele voltou a fumar.

Ela cortou relações com mãe, que criticou a escolha do tecido das suas novas almofadas.

E então Deus achou que eles não mereciam mais acasos.

E, para ambos, a vida prosseguiu de forma previsivelmente sem graça.

Como tantas e tantas por aí.

domingo, 8 de novembro de 2009


POETA

Se você disser que é profeta
Eu acredito
Se disser que é poeta
Eu grito!

terça-feira, 27 de outubro de 2009


RESOLUÇÃO

Uma forma peculiar
De resolver um problema
É transformar
Todo e qualquer teorema
Em poema

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Para ler na rede...


SENTIMENTOS

A culpa está ali ao lado, se auto-flagelando
Enquanto a pressa saiu correndo
A raiva está roxa
O medo tremendo
E as lágrimas nadam em água salgada

Enquanto isso
Bem ao lado
A preguiça
Ali olhando
Na rede
Balançando...

sábado, 10 de outubro de 2009

CuPiDo...


ACUPUNTURA

Vou contratar
Um cupido oriental
Entendido em acupuntura

Para lançar
Com precisão total
Uma flecha tipo agulha

Bem na sua orelha
No seu ponto do coração
Em uma flechada certeira
Sem nenhuma dispersão

E então a vida dura
Será plena de paixão
E eu, para responder à altura
Jamais direi um não

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Mágica!


O ILUSIONISTA

Você pensa que escrever poesia
É truque
Magia
Só porque ela é capaz
De fazer levitar

Olha nas minhas mangas
Para ver se não escondi palavras
E perscruta a tudo ao meu redor
Mas quando menos espera

Vou lá e tiro uma rima
De dentro da cartola
E ela brilha
Com um simples toque

E você não entende como
Pode ser
E então chama de mágica
O que acabou de acontecer

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tempos Modernos...


CERTEZAS

Os seres humanos usam frases afirmativas encerradas por pontos finais ou até mesmo pontos de exclamação.
Sustentam olhares com segurança e apertam as mãos uns dos outros com firmeza.
Têm certeza de tudo.
Mas, voltando para as suas casas, choram sozinhos em seus carros.
E à noite, demoram a pegar no sono.
Algumas vezes ainda, acordam ofegantes, sobressaltados, assolados por pesadelos.
Temem a morte.
No dia seguinte, ainda choram no chuveiro.
Mas, a seguir, vestem uma roupa tipo armadura.
E voltam a oferecer o seu semblante mais sereno para o mundo.

domingo, 20 de setembro de 2009

Qualquer semelhança... é mera... coincidência...

NÃO E SIM

Minha razão
Essa chata
Só diz não
Me maltrata

Mas meu coração
(Um, enfim)
É gamado
No sim!

domingo, 13 de setembro de 2009

Mais um poema...


FOTOGRAFIA

Um feixe de luz e uns compostos de prata
Eternizam a sua imagem em uma fotografia
Tirada com uma câmera de lata
Em um tempo em que você ainda ria

Uma fotografia em um porta-retratos
Que jamais sai do lugar
Eu contemplo com horário marcado
E me ponho a chorar

Eu que sempre fiz chacota
De quem tem o ritual
De rezar virado para Meca
Com devoção total

Olho e choro no ato
Cinco vezes ao dia
Voltado para o seu retrato
Quem diria

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ninguém é mesmo perfeito...

DEFEITOS

Vou elencar os seus defeitos
Eu, que tenho todos
E sei tudo sobre eles
Vou apontar um a um
E dissecá-los à luz do dia
Vou fazer dos seus defeitos
A sua marca registrada
E quem sabe até
O seu charme

Vou pegar o seu pior defeito
E publicar na primeira página do jornal
E se ele fizer sucesso
Direi que é meu, só meu
Que o seu defeito me pertence
E só existe graças a mim
Que fui eu que o criei
Já que antes de me conhecer
Você era só virtudes

Vou pinçar o seu pior defeito
(Aquele, sem jeito)
E mostrar com todo o orgulho
Afinal, fui só eu
Que o descobri sob o entulho

domingo, 23 de agosto de 2009

Domingo de Frio e Chuva...


TUDO

Somos poucos
O mundo é louco
E todos mudos
Um tanto roucos

De ouvidos moucos
E medos tantos
E males muitos
E grandes prantos

E somos cegos
Ou mesmo mancos
Mas vamos indo
Mesmo que aos trancos

O mundo é tudo
E tudo é pouco
Queremos muito
De tudo um tanto

E por todo canto
O mundo é lindo
E eu me encanto
Este é o ponto

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pra começar a semana!


Divã

Não quero me consultar com você, senhor psicólogo
Que vai denominar o meu medo de fobia
Destilando, em um longo prólogo
Toda a sua sabedoria

Transformando cada traço da minha personalidade
Em uma síndrome complexa
E me analisando desde a mais na tenra idade
Conforme bibliografia anexa

Sabendo sobre toda a minha vida
Sem demonstrar um pingo de emoção
Ouvindo toda a minha rotina
Em cada sessão

Vai saber sobre a minha infância
E os meus amores
Sobre os meus pais
E os meus pudores

Sobre os meus traumas
E anseios
Problemas
E devaneios

Gostos
E preferências
Rancores
E carências

Saberá sobre o meu trabalho
E estudos
Resumindo:
Sobre tudo

Para no final de muitos anos
Depois de muito me ouvir
Dizer que sou apenas um ser humano
Ainda por me descobrir

domingo, 2 de agosto de 2009

Poeminha de domingo...

ABAIXO-ASSINADO

Inicio hoje este abaixo assinado
E peço a todos que colaborem
Um grande mal será eliminado
E o mundo enfim terá ordem

Assinem, assinem sim
Serão todos beneficiados
Os males do coração terão fim
E o sentimentos serão apaziguados

Proibamos a paixão
Esta erva daninha
De se esconder sob o colchão
E assolar-nos à noitinha

Proibamos a paixão
Que não nos leva a lugar algum
De contaminar uma multidão
Como se não houvesse mal nenhum

Obriguemos o governo
A distribuir uma vacina
Aplicada bem no nervo
Impedindo uma chacina

Eliminemos de vez
Esse sentimento da sociedade
Eu garanto a vocês
Ninguém jamais terá saudade

Como pode a paixão
Em pleno século vinte e um
Sobrepujar-se à razão
No interior de cada um?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

One More...


Espelho

Não reconheço
Nesse homem
Esse queixo
Esse abdômen

Essa ruga
Bem na testa
A pouca barba
Que lhe resta

Ainda olho no espelho
Essa cara
Esse cabelo
Essa boca
Bem no meio
E um olhar
Um tanto alheio

Seus traços
Suas rugas
Junto os cacos
Lembro rusgas

Eu olho
E me ajoelho
Serei eu mesmo
Nesse espelho?

terça-feira, 28 de julho de 2009

Fazendo eco com a minha amiga Sandra...


ARTE

NÃO TEM NORMA

PODE SER

DE QUALQUER FORMA!


Acredito nisso.

Gosta de arte abstrata? Ok.

Pop art? Por quê não?

Lê best sellers? É um direito seu!

Quadrinhos?

Clássicos?

Acha ópera um porre?


Gente, pelo amor de Deus...

Já temos regras de trânsito...

Manuais de etiqueta...

Normas de conduta...

Leis de todos os tipos...

Regras do trabalho, do condomínio...


ARTE É ARTE. PRONTO.

sábado, 25 de julho de 2009

Poeminha




LÍNGUA
Veja na minha língua
Toda sede
E toda míngua
Toda dor
Que ela respinga

Cada palavra
Que se vinga
Toda vez
Que alguém me xinga
Como se fosse
Uma mandinga

Veja na minha fala
Cada odor
Que ela exala
Tanta dor
Que não se cala
Com um furor
Que não se abala

Veja na minha língua
Eu só tenho um coringa
E uma gotinha mais
De pinga
Veja antes
Que se extingua

domingo, 19 de julho de 2009

Despedida


Despeço-me. Ou melhor, despedimo-nos: a despedida é sempre entre duas partes.
Não é uma despedida definitiva, cada qual para o seu lado: é apenas um até breve.
Você vai, pega um avião, mês que vem tá aí de novo.
Não nos veremos nos próximos dias, a não ser pela webcam (e ainda bem que existe webcam!).
O que é um tanto triste, mas não assim de se morrer de desespero.
A tecnologia ajuda muito nas despedidas breves (em despedidas tipo final de namoro ou final de casamento, ou mesmo morte, não serve pra nada, mas para despedidas breves, de quem viaja ou muda de cidade, ajuda muito).
A nossa despedida é do tipo contornável tecnologicamente. Nos falaremos via e-mail, todos os dias, como é de se esperar.
E continuaremos com nossos papos e planos e projetos e risadas tipo hehehe. E, tudo bem, fofocas.

Você vai, eu fico. Talvez eu sofra mais. Meu dia a dia será o mesmo, sem grandes novidades.
Nos meus almoços você não estará mais presente. Não ficaremos mais um século para decidir onde almoçar, indo, finalmente, sempre ao mesmo lugar.
A sua rotina, em outro ambiente, levará à distração.
Nova cidade, novos ares, novas pessoas.

Voltará com muitas idéias, fotos e vontade de ir aos lugares que sempre fomos, como se fosse impossível viver sem eles.

Sou do tipo chorona. Até em despedidas do tipo breve e contornáveis via web, tenho certa tendência às lágrimas. Talvez seja uma propensão genética.

De toda forma, dessa vez, me segurei e não chorei.
Não fiz discursos, evitando o sentimentalismo.
Percebo que você vai feliz.

Ficarei aqui, aguardando os seus e-mails.

E viva a internet, que nos unirá no mesmo plano, mesmo estando tão distantes fisicamente.

Só não esqueça de mim!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

"CONSIDERAÇÕES ACERCA DO MUNDO"

Escrever ultrapassa o momento da escrita: acontece quando você dorme e tem um sonho revelador. Quando você ouve aquela música e tem um insight. Quando alguém fala algo engraçado, tosco, revoltado. Quando você ama tanto alguém que quer homenageá-lo com um personagem. Quando você detesta tanto alguém que quer transformá-lo em um bandido sórdido com direito a se estrepar no final da história, sublimando todos os seus sentimentos em relação àquele ser, tipo assim “tudo bem, seu imbecil, você é um grande babacafilhodaputa, mas pelo menos serve de inspiração para um bandidinho de quinta na minha história de primeira”. Quando você vê o mocinho e a mocinha se beijando no final do filme e solta um suspiro. Quando tem alguém do seu lado no ônibus falando ao celular e você fica ouvindo tudo, imaginando como será a vida daquela pessoa. Quando você está há horas com insônia e começa a ver fantasmas.

Escrever é acumular todas as experiências de leitura e vida e aglutinar as palavras de uma forma inédita, toda sua.

É a minha forma de organizar as idéias. Há pessoas que possuem o cérebro bem compartimentado, onde cada informação que entra é imediatamente catalogada e encaminhada ao local mais propício, estando prontamente disponível quando necessário.

Eu não. As informações que entram se misturam todas, ficam lá dançando... Há umas que busco e não acho, há outras que não busco e acho, e assim vou levando.

Li algumas coisas sobre isso. Hoje sei que não ser tão prática-objetiva-realista-racional tem os seus percalços (e como tem!), mas tem também as suas vantagens. Os cérebros dos seres humanos são diferentes. Os que possuem cérebros organizados tal qual uma biblioteca, com todas as informações catalogadas, possuem mais facilidade para alguns tipos de tarefas, mas não são tão criativos. Não olham para as nuvens do céu imaginando desenhos, por exemplo. Suas sinapses são mais realistas e estão ocupadas com coisas mais concretas, como as contas a pagar, os números, os prazos, as datas, as metas, a ordem... E outras tantas que não me recordo.

Não é possível ter tudo.

Escrever é a forma que encontro para extravasar os bons e os maus sentimentos. É a atividade em que passo horas absorvida, concentrada, empolgada, envolvida.

É uma catarse que me cura.

Tudo o que acontece de real é matéria prima para a ficção, afinal de contas. E eu amo a ficção, tanto a poesia, quanto a prosa. Não sei o que seria dos seres humanos se não fosse a ficção nesse mundo tão amargo, violento, cruel e sem explicação. Mesmo os que não gostam de ler têm uma grande dose de ficção em suas vidas, tanto na televisão, quanto no cinema, nos sonhos noturnos, nos sonhos acordados, nas histórias que contam e que ouvem... Na música, no teatro... E em locais que muitos nem imaginam que possam encontrá-la, como na religião, nos telejornais e na fala do presidente.

Entretanto, todos os dias, nesse afã de escrever mesmo quando não estou escrevendo, vejo, ouço e sinto coisas falando para mim mesma “guarde isso para uma história”.

Só que antes de transformar isso tudo em história, eu precisaria de um personagem, um enredo, um local, uma conjuntura. Precisaria alterar nomes, datas, características físicas. Precisaria adicionar alguns temperos, cortar uns exageros, costurar alguns pedaços. A ficção exige engenho e arte.

Assim, pensei seriamente em escrever crônicas (abandonar a ficção? Jamais! Escrever de tudo um pouco, isso sim). Crônicas tipo as de jornal, onde o cronista fala desde a crise mundial até sobre o inverno, o restaurante, a morte, o trânsito ou o desfile de moda. Aquela opinião sobre tudo e sobre nada, aquela visão de mundo particular, narrada em primeira pessoa, com um pouco mais de razão e um pouco menos de emoção.

São literatura? São jornalismo? Um gênero híbrido? Oh, o que serão as crônicas?

E isso lá importa?

Talvez importe para os que têm o cérebro tipo catálogo, como os acima citados. Para os que têm o cérebro ligeiramente caótico, como o meu, tanto faz como tanto fez. Podem ser jornalismo, literatura, os dois juntos ou nada disso. Podem ser úteis ou inúteis, tanto faz. Podem se assemelhar ao conto, podem não se assemelhar a nada.

Ah, sim, as crônicas são opiniões. Não sou o Obama, não sou celebridade, não sou uma assumidade intelectual, não sou nada. Quem se interessará pelas minhas opiniões além de mim mesma?

Não sei. Talvez alguns, por concordarem ou discordarem dos meus pontos de vista. Talvez ninguém. Talvez a mãe, o pai e os irmãos, por conta dos laços de sangue.

O Jô Soares disse “Tem gente que gosta de opinar sobre tudo: do cocô à bomba atômica”. Se esse é o meu caso? Creio sinceramente que não. Alguns (muitos) assuntos definitivamente não me interessam e não sou capaz de formular opiniões sobre eles. Futebol é um exemplo.

Entretanto, sinto que preciso das crônicas. Tenho fragmentos de realidade dentro de mim que demorariam um bocado para serem transmutados em ficção. Tenho perguntas, indignações, medos, conflitos, protestos particulares... Tenho a vontade de treinar o meu olhar para o cotidiano, a realidade, as notícias diárias... E a necessidade de escrever sobre isso tudo.

Assim, “Considerações Acerca do Mundo” são as minhas opiniões sobre tudo e sobre nada. São infundadas? Superficiais? Tendenciosas? Liberais? Ocidentais? Caóticas? Budistas? Profundas? Mornas? Pobres? Justas? Sinceras? Camufladas? Inéditas? Irônicas?

Não são nada disso. São pós-modernas, isso sim. Pós-modernas no sentido de serem escritas no século XXI, sem rótulos e sem preocupação com os mesmos.

São minhas e não são absolutas. Como diria o Raul Seixas “eu prefiro ser/ essa metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”.

E de resto... Não são mais nada! São apenas tinta no papel.

Ou o que a Constituição chama de Liberdade de Expressão.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Meu texto na peça...

Adorei, Rick!

Não me pregue nenhuma peça...
Leia o texto e me peça...
E ele entra lá na peça!
Aeeee!

segunda-feira, 22 de junho de 2009


I´ve tried to sleep.
Now, I´m just trying to survive.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Finais


Esperamos o final do dia
Porque estamos cansados
E o final do projeto
Porque estamos perdidos

Esperamos o final do inverno
Porque estamos gripados
E o final de semana
Para fazer algo divertido

Esperamos o final do filme
Porque estamos curiosos
E o final do mês
Porque estamos falidos

Esperamos o último capítulo da novela
Porque somos ansiosos
E o final do ano
Porque estamos desiludidos

Esperamos o fim do curso
Para que sejamos diplomados
E o final do regime
Porque estamos famintos

Esperamos o final do empréstimo
Para que seja renovado
E o final dos mosquitos
Que devem ser extintos

Só evitamos o final da vida
Que ocorre no final dos tempos
E é o final de todos os finais

Depois de uma rotina corrida
Queremos ser lentos
E desfrutar um pouco mais...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

"MINHAS PALAVRAS PREFERIDAS"




FÉRIAS.

Dispensa explicações.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Crises


Por favor, me perdoem, ainda não estou de todo adaptada a este mundo e as minhas crises existenciais são como reumatismo: doem mais no inverno.

Doem porque o mundo é redondo.

E porque viemos de algum lugar que ninguém sabe onde fica.

Doem porque a vida é rara: tudo o que se vê, olhando ao redor, são tentativas de subsistência.

Porque está tudo errado e não há forma de se endireitar.

E o único espaço onde pode haver anarquia sem hipocrisia é dentro de nós mesmos.

Doem porque a cada segundo tememos a morte, quando é graças a ela que os segundos têm valor.

E porque nos enchemos de coisas, mas por dentro continuamos como antes: vazios.

E cheios de ecos.

E às vezes doem mais quando doem menos: porque penso que podem ter desistido de mim (e sem as crises o vazio é ainda maior).

E porque os indivíduos criaram atalhos: agora as palavras saem das bocas sem antes passarem pelos corações.

Doem também quando as crises dos outros desaparecem ou estão camufladas. É a dor do desajuste.

E quando se levanta a lebre “de onde viemos e para onde vamos?”, uma vez que para tal pergunta jamais teremos resposta.

E doem ainda quando essa pergunta está fora de questão, como se fosse possível seguir sem pensar nisso.

Doem por tudo o que acontece ou deixa de acontecer: são crises, afinal de contas.

Doem até sem motivo.

E em especial porque faz frio. E minhas crises doem mais no inverno.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Infelicidade

Aos infelizes, só resta a crítica
Ser feliz é tão absolutamente anencéfalo
Tão livre e futil e vazio e leve e sem sentido
Ser feliz chega a ser torpe (e demonstrar felicidade, então, nem se fala!)

Já o infeliz é sempre crítico, racional
Absolutamente consciente e visionário
É um ser pensador
De uma angústia incomensurável
Vive com dor - mas é estável

Ser feliz é de uma leviandade avassaladora
Só é possível aos que não estão em seu juízo perfeito
Ou aos inocentes
(Sem conserto)

Deveria haver placas com letras garrafais
E avisos em todos os jornais
Proibindo a felicidade em locais públicos
Aos maiores de cinco anos

A infelicidade sim, é socialmente aceita
E prescinde de apresentações
Mas deve ser usada com parcimônia
E moderação
Em toda e qualquer cerimônia
Ou estação

terça-feira, 12 de maio de 2009

Diálogos do Meio-Dia (again)

- Onde vamos almoçar hoje?
- Não vou almoçar, mas vou com vocês.
- Não vai almoçar por quê?
- Porque estou sem fome.
- Toma um suco então.
- Não, não quero.
- Um suco, uma água.
- Não quero nada.
- Como não quer nada?
- Nada, não quero nada. Quando estou assim não quero nada.
- Ih, já vi, você está hoje mais chata do que o normal.
- É, estou.
- E de quê adianta levar a vida assim tão a sério? Faça como eu: seja relax.
- Ok, serei como você, relax com tendências suicidas.
- É, não sou assim tão relax.
- De quê vale isso tudo, hein? Tanto trabalho, tanto esforço, tanto stress?
- Nada, não vale nada! Seja como eu, livre!
- Um livre operário! Que bate ponto e fala amém a tudo o que diz o seu chefe.
- Ah, eu nem escuto mais o que ele diz. Só me preocupo agora com o meu cigarro. Será que vão acabar com os fumódromos?
- É, o seu cigarro... Boa preocupação. Eu gostaria de me preocupar com cigarros também.
- Aliás, o preço do maço aumentou. Fumar não tá mais pra pobre não!
- É, eu vi, acho isso muito bom. Pobre não tem mesmo que fumar. Nem pobre, nem rico.
- Ah, todo mundo tem câncer. Todo mundo, você não viu? A tendência de todo ser humano é ter um câncer. O meu será de pulmão. Ou de língua. Ou na garganta. Você não fuma e não sabe onde será o seu.
- Ok, bom argumento.
- Se não quer cigarros, tome ao menos uma limonada!
- O mundo já é azedo o suficiente. Não quero nada.

domingo, 10 de maio de 2009

Platão...

- Você já pensou em abandonar a vida real?
- Sim e como!
- A vida real não é pra você!
- E eu não sei?
- Você e a vida real são duas coisas absolutamente incompatíveis. Contas para pagar, louças para lavar, camas para arrumar, supermercados a fazer...
- Chatos para suportar...
- É, não tem nada a ver com você.
- Não mesmo... Eu queria viver em um filme de Walt Disney...
- Até eu, que sou assim, racional, prático, metódico, às vezes me canso da vida real.
- Jura? Cansa mesmo?
- Canso... Mas tenho uma desvantagem em relação a você...
- E qual é?
- Não tenho afinidade com ficções, manja? Não curto arte abstrata, não leio histórias fantásticas... Não conheço outro mundo que não seja esse, real e concreto, absolutamente sólido.
- Puxa, então você nunca leu Platão, certo?
- Hummm... Platão... Não, acho que não. Por quê?
- Filho de Deus, leia Platão. Sua pobre cabecinha vai dar loopings, se você acha que o mundo em que vivemos é real.
- Sério? Por quê? Não é? O mundo real é o das suas histórias? Dos seus personagens? Dos seus poemas? Em que mundo vivemos então?
- Leia Platão, leia Platão...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A vida real não tem me deixado tempo para a ficção...
O tempo está escasso... =(
Volto assim que der!
Bjos,
Tereza

domingo, 3 de maio de 2009

Ser bom

“Ser bom” é uma oração intransitiva
Não cabem complementos ou sujeitos.
Quem é bom, é bom,
Em qualquer circunstância,
Com toda e qualquer pessoa.

Quem é bom, é bom.
Ponto.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Temores


Enquanto muitos temem a escuridão,
Eu temo os meus defeitos expostos à luz do sol.
Enquanto outros temem o silêncio,
Eu temo os meus problemas expressos em palavras.
Enquanto muitos temem a solidão,
Eu temo a multidão.
Enquanto muito temem os problemas,
Eu temo o tédio, pura e simplesmente.
Enquanto muitos temem aos outros,
Eu temo a mim mesma...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Poeminha de sexta-feira (yes, I´m with a sore throat!)

DOR DE TUDO

Doem as suas dores?
Onde doem?
São provenientes de amores?
E lhe corroem?

Tenho termômetro...
Comprimido...
E seringa...
Tá servido?

Doem do tipo queimado?
Ou do tipo doído?
Do tipo inflamado?
Ou do tipo ardido?

Podemos fazer uns exames
Medir a pressão
Ou tentar um transplante
Com transfusão!

Possuem marcas aparentes?
Cicatrizes, hematomas?
Ou são do tipo atrizes
Que não vêm à tona?

Não venha me dizer que tem gripe
Ou resfriado
Um tumor
Ou um machucado
Que é cardíaco,
Desenganado!

Dói a garganta?
E o ouvido?
A barriga?
E o umbigo?

Quer tomar soro?
Analgésico?
Anti-ácido?
Anti-térmico?

Quer um atestado
Para faltar no emprego
E ficar em casa
No maior sossego?

As doenças não doem
E nem os seus sintomas
Doem os braços, as pernas
A cabeça
Ou o coração
A doença
Não!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Essência

A vida acontece enquanto você se esconde
Nas cavernas do seu desencanto
A vida acontece enquanto você se agarra à última pedra
Antes de cair no abismo

Viver só é possível com muito ar nos pulmões
Não reflita: enquanto se pensa, não se vive

Filosofar é dar voltas em torno de si mesmo
Pensar não leva a nada e nem nos guia para algo além do mundo
Não nos mostra de onde viemos
E nem porquê estamos aqui

Pensar nos leva apenas
A uma série de inferências
Que por sua vez nos levam a outras inferências
E que no final, não nos levam a lugar algum

Abandone os pensamentos, eis o primeiro passo
Depois, rasgue as suas roupas e seja livre
Não os tecidos sintéticos que cobrem o seu corpo
E explicitam o seu viés fashion
Mas as suas vestes de guerra
As armaduras que envolvem o seu coração
E as máscaras que usa para se proteger do mundo

Rasgue as suas máscaras à prova de lágrimas
Que sorriem de forma automática
(Na maior parte das vezes para quem nem merece sorrisos)
E deixe que as lágrimas caiam, quando elas assim quiserem

E então seja feliz
Ou mesmo triste
Mas seja você
Só você

terça-feira, 21 de abril de 2009

Post de feriado...

OLHAR

Não me olhe assim
Tão profundo
Você pode ver, no fundo dos meus olhos
Segredos que são só meus

Não me olhe assim, sem pedir licença
Há regiões em mim que são secretas
E a chave para entrar está perdida
Não insista

Não me olhe assim
Tão profundo
Senão terei que esconder o que sinto
Em outro mundo

sábado, 18 de abril de 2009

Mais um BLOG!!!

Pessoal! Estou com mais um BLOG agora:

http://foiescrito.blogspot.com/

Nesse BLOG irei postar textos, frases, trechos, aforismos e poemas de diversos autores!

Quem quiser curtir...

Bjos e bom final de semana!

Tereza

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Diálogos do meio-dia


- Sabe, eu sempre penso, deveria me afastar de você.
- Sério? Se afastar de mim? Por quê?
- Você é feliz demais, cara. Feliz demais, assim não dá. Não suporto tanta felicidade.
- Feliz, euuuu? E quem disse que eu sou feliz?
- Oras e não é?
- Não, não sou! Claro que não! Sou infeliz e angustiada. Atormentada, eu diria!
- Ah, vai, tenho certeza de que você é feliz!
- Sou nada, de onde você tirou essa idéia maluca?
- Você vive sorrindo por aí! Achei que era feliz, oras!
- E desde quando sorriso é sinônimo de felicidade?
- E não é?
- Não, não é. Eu só tento, por assim dizer, me adaptar. Fingir. Encenar. Isso não significa que eu seja feliz.
- Jura que não é feliz?
- Sou infeliz que só vendo!
- Não acredito!
- Pois acredite! Se eu fosse feliz, não conseguiria escrever.
- É mesmo, pessoas felizes não escrevem. Pessoas felizes dançam, surfam, namoram. Mas não escrevem.
- Então, tá provado?
- Tá sim, agora acredito. Mas que eu sou mais infeliz que você, ah, isso eu sou!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Lembrança

- Você lembra de mim às vezes?
- Por que isso agora?
- Porque acho que você nunca lembra de mim...
- Como assim? Lógico que lembro!
- Mentiroso!
- Oras, se eu estou falando que lembro!
- Lembra mesmo?
- Lembro! Alguma vez eu já menti pra você?
- Já!
- Eu? Menti pra você? Quando?
- Mentiu quando disse que ia me ligar no dia seguinte e só ligou três semanas depois!
- Hahaha!
- Não tem graça!
- Não foram três semanas depois, foram no máximo três dias.
- Ok, três dias, mas pareceram três semanas.
- É que não deu tempo, eu estava trabalhando demais.
- Sei, sei. Tá vendo? Já tá mentindo de novo! Se quisesse, teria arrumado um tempo!
- Mas é lógico que eu lembro de você. Não fui eu que te liguei dessa vez?
- É, uma semana depois, foi você, sim.
- Então, lembrei.
- Você lembra quanto? Todo dia?
- Lógico que lembro todo dia!
- E então por que não me liga todo dia?
- Ai, vem cá, vem...

domingo, 12 de abril de 2009

"MINHAS PALAVRAS PREFERIDAS"


Como já disse em outro post, eu ando pra lá de metalingüística.

Escrever sobre a escrita tem sido uma constante, mesmo em textos ainda não publicados por aqui.

Ando pensando demais sobre as palavras também, minha grande paixão.
Sobre a cor, o sabor e o cheiro de cada uma. Sobre a forma como são ditas... Causando algumas vezes, o seu efeito desejado... E outras vezes... Um desentendimento inesperado!

De um modo geral, no dia a dia, usamos as palavras sem pensar demais sobre elas– possuímos um vocabulário padrão (e de um modo geral, restrito) e fazemos pequenas alterações de acordo com o assunto e o interlocutor.

A não ser os mais pedantes, que encontram nas palavras uma forma de sobressaírem-se, os demais encaram as palavras de forma absolutamente utilitarista: como uma ferramenta para se comunicarem, única e exclusivamente. Ninguém pensa demais sobre cada uma delas.

Às vezes me acontece uma coisa: algumas palavras que eu ouço, mesmo inseridas em contextos ou conversas mais banais, ficam reverberando dentro de mim. Às vezes elas tomam grandes proporções e destacam-se muito mais do que o próprio sentido da frase ou da conversa.

Por isso, resolvi criar aqui no BLOG uma sessão chamada “Minhas Palavras Preferidas”. Dessa forma, vou poder, de quando em quando, homenagear as minhas palavras mais queridas.

Para começar, uma palavra que eu adoro, tanto pela sua sonoridade, quanto pelo seu significado. É uma palavra doce, que me seduz talvez (putz, é difícil explicar uma palavra com outras palavras!) porque remete a um “deslumbramento delicado”.

Enfim, não sei se me fiz entender (essas coisas só se entendem com a emoção, caso alguém ainda esteja procurando entender com o cérebro, aviso: este não é o caminho), mas quando penso em minhas palavras preferidas, essa é a primeira que me vem à mente:

ENCANTO

Segundo o Dicionário Aurélio:

Encanto. [Dev. de encantar.] S. m. 1. Coisa que delicia, enleva, encanta. 2. V. encantamento.

Origem? Latim!

Canto, canção, encanto, encantamento...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Você e as estrelas


Quase no final da garrafa de whisky. Justo eu, que nunca fui chegada aos destilados.

Há dias que não tinha fome e nem frio. Só sede, muita sede.

Quando você me encontrou, eu estava na sarjeta, sejamos sinceros. Não há porque usar de eufemismos, afinal, o rei das metáforas e das delicadezas aqui é você. O rei da etiqueta e dos bons modos! Nem fumar você fuma!

Eu estava numa pior, emocionalmente estropiada, tentando colar os caquinhos que restavam do meu coração. E cola nenhuma dava jeito.

Enchendo a cara de whisky e os pulmões de nicotina.

Estômago, nem sei como ainda tinha um, tamanha a produção de suco gástrico. Isso para não falar dos meus nervos, também em frangalhos. Era essa a situação, sem tirar nem pôr.

Mas também, será que poderia ser diferente? Eu não sou do tipo que toma umas cervejinhas e fica alegre, cantarolante, engraçadinha. Sou do tipo que toma todas, provoca todo mundo e ainda por cima vomita no final. Com a paixão, acontece igual. Eu até me irrito quando vejo esses apaixonadinhos bobocas, que ficam rindo à toa e dizem sentir-se “levitando”.

Ah, por favor! Levitar! E desde quando a paixão tem poderes ascendentes? Desde quando desafia a lei da gravidade? Se apaixonar sim, mas levitar é para os fracos!

A paixão está muito mais para o contorcionismo do que para o salto em altura! A paixão é uma luta de boxe que acontece nas nossas entranhas. Não tem essa de “suspiros apaixonados”. Suspiros! Mas que suspiros, meu Deus? Se eu conseguisse respirar, já estava bom demais, quanto mais suspirar!

E mais um copo de whisky. E outro cigarro.

Levitar é para os fracos, sorrir é para os fracos, suspirar é para os fracos. Paixão mesmo é uma desgraceira. Uma descarga elétrica de 100.000 volts, que se não mata, aleija. Menos do que isso é frescura, paixonite, qualquer nome que se queira dar, menos paixão.

É quando um indivíduo se apaixona que ele descobre porque tem vísceras, porque é nelas que o parasita se instala. E para quem não sabe, eu digo: dói pra burro.

Eu estava em um grau de apaixonamento tão grave que qualquer palavra do ser amado adquiria um sentido todo mágico, especial, como se por trás de tudo o que ele dissesse houvesse, nas entrelinhas, uma mensagem subliminar só para mim. A voz, o cheiro ou a simples visão do ser amado, por um segundo que fosse, transformavam o meu coração em um trem desgovernado (e foi numa dessas de trem desgovernado que ele se espatifou todo, virando depois aquela coisa kitsch dos caquinhos).

Providências de cura, tentei de tudo, de medicamentos a estação de águas. Ficou faltando só o suicídio. E foi por pouco.

Os médicos não queriam me tratar. Diziam apenas “isso passa”. E daí se passa? Gripe também passa, mas para alívio corporal e apoio psicológico existem os analgésicos, anti-térmicos e uma imensa variedade de medicamentos. E olha que uma gripe dura só uns quatro, cinco dias. E nem dói tanto. E nem dói no corpo inteiro.

Não sei como fui cair nessa. De novo. Sou expert nisso, em paixões desastradamente mal sucedidas, grau nove na escala Richter. Poderia entrar no Guinness Book.

A você, imagino, o impacto foi grande. Deve ter pensado que eu era alguma espécie de atormentada crônica, dessas que passam a vida toda à base de remédios para os nervos. Desculpa se eu te assustei, mas você chegou no ápice. No ápice da derrocada, para ser mais específica.

Os médicos haviam me desiludido. A ciência, essa porcaria, não serve mesmo pra nada. Em matéria de amor, ainda somos primatas, com a diferença que os primatas não tinham que ouvir frases do tipo “o tempo é o melhor remédio”. Como se o relógio tivesse algum interesse em aliviar as nossas dores ou adiantar em um segundo que seja o nosso alívio. O relógio é um insensível.

Você me viu no final da garrafa de whisky. Nem te ofereci um gole, porque ela era toda minha. E eu ainda achava pouco.

Pelo menos eu me afogava em whisky, se há algum consolo. Era uma derrocada de primeira classe, não posso negar.

E você, sóbrio, do alto da experiência de quem já viveu emoções de levitar e de aleijar. Apesar do whisky, ainda lembro. Disse-me “paixão dói, mas não mata, fique fria”.

Ficar fria, eu. Uma floresta seca, bem no meio do incêndio.

Ao contrário dos relógios, as garrafas de whisky são sensíveis e tentam, tanto quanto podem, aplacar a nossa dor. Por isso, quase pedi mais uma. Você não deixou. Então, acendi mais um cigarro.

No dia seguinte, ressaca. Doeria tudo mesmo, fosse pelo álcool, fosse pela paixão. Com a diferença que o whisky me custou uns cem paus e a paixão é droga de fabricação caseira.

E você lá, com o seu frescor, o seu vigor, o seu sorriso. Você e o seu refrigerante, tomado de canudinho, da mesma forma que você engole a vida, a conta gotas. Você e o seu ar de sobrevivente, de quem superou as suas paixões e ficou sem seqüelas aparentes. Com a sua típica expressão de quem nunca tentou suicídio. Juro que você merecia um soco.

Você me veio com uma lição. Ótimo, você era mesmo uma boa alma. Nem me conhecia e já tentava salvar a minha vida, ou o que havia restado dela. E ainda me proibia de torrar mais cem paus em outra garrafa de whisky.

A sua lição era cósmica e ao menos me fez rir, o que já era de grande valia. Ou teria sido efeito do álcool?

De toda forma, você me contou histórias das estrelas. Seus nomes, suas origens, essas coisas todas. Esse papo de estrelas poderia me fazer apaixonar, se não estivesse já tão apaixonada. Se houvesse mais uma gota de paixão em mim, naquela noite, ela seria sua. Mas eu estava saturada.

As estrelas, dizia você, só brilham por conta do hidrogênio, seu elemento mais leve. Quando ele se exaure, elas param de brilhar. A idéia, eu estava bêbada, mas ainda não tão burra, era garantir certa dose de leveza à minha vida, para que eu continuasse a brilhar. Se é que eu já havia brilhado um dia.

Valendo-me da sua metáfora, eu já nasci estrela velha, repleta de urânio, impedindo o meu brilho. Com uma gravidade que jamais me fez voar, quanto menos brilhar. Minhas paixões, meu amigo, são sorrateiras. Não vivem lá no alto, me levando até as nuvens. Elas me levam ao meu esgoto particular, ao que há de mais podre e mais dolorido dentro de mim. Elas me arrastam junto ao chão.

Mas gosto de você e do seu tal hidrogênio. Você tenta até agora, meses depois, me convencer disso, dos efeitos milagrosos do hidrogênio para o coração humano.

Quem sabe um dia eu tente, só para ver como é que é. Para ver se eu ainda tenho jeito.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Amorrrr!!!


TODOS OS MEUS AMORES

Nem todos os meus amores
Resultam em poema
Alguns terminam em gangrena
Ou mesmo pontes de safena

Nem todos os meus amores
Terminam sem ruído
Se alguns terminam em silêncio
Outros beiram o suicídio

Nem todos os meus amores
Terminam numa boa
Alguns terminam sem razão
Outros por uma briga à toa

Nem todos os meus amores
São assim tão intensos
Alguns são indolores
Em outros, nem penso

Nem todos os meus amores
Terminam no final
Alguns deixam muitas dores
E outros nem dizem tchau

terça-feira, 7 de abril de 2009

Metalinguagem


Hoje eu quero escrever novamente sobre o ato de escrever.
Cheguei em casa tarde e cansada.
Mas com uma vontade incrível de escrever.
Já anotei umas rimas...

Ando por demais matalingüística. Fazer o quê? Deve ser uma fase, né?
Assim como alguns fotógrafos retratam apenas a natureza...
Ou como uns cineastas têm predileção pelo drama ou pela comédia...
Assim como estive e ainda estou totalmente na minha fase POESIA...
(poesia esta que mudou a minha visão de mundo: hoje ouço música de forma diferente, ouço as palavras de forma diferente, todos os textos têm um sabor especial, mesmo a prosa, depois que descobri a poesia!!!).
Tenho refletido demais sobre o ato de escrever.

Um pouco porque tenho sido questionada sobre isso diariamente.
Antes, poucos sabiam que eu escrevia.
E os poucos que sabiam são os que também escrevem! Hehehe!
Então eles perguntavam menos!
E um pouco porque ando cada vez mais apaixonada pelas letras!
Mais e mais apaixonada pelas coisas que leio e pelo ato de escrever.

Tem gente que gosta de ler e não gosta de escrever.
Para mim as duas coisas estão absolutamente interligadas.
Sempre que leio algo (bom!), a minha cabeça dá loopings e penso em coisas que posso escrever.

Escrever é a minha droga. É um vício que chega a ser físico.
Ainda bem que não é ilícito.
É o atalho que eu pego para fugir do mundo – e às vezes até de mim mesma.
É a melhor estratégia que eu já testei para me auto-enganar.
É a forma de transmutação de sentimentos mais eficaz que existe.

Tenho o hábito de andar sempre com papel e caneta e se não os carrego comigo, me sinto insegura. É como se pudesse ter uma idéia a qualquer momento e ela pudesse ser esquecida pela ausência de papel (sim, de um modo geral, esqueço até mesmo as idéias mais fantásticas na correria do dia a dia... Tenho que anotar tudo!).

Tenho também o hábito de mandar e-mails para mim mesma com as idéias mais estapafúrdias. Depois fico com uma coleção imensa de idéias para desenvolver... Uns trechos em papel, outros trechos em e-mails...

Também reparo como as pessoas observam quando estamos fazendo alguma anotação em um pedaço de papel. Poucos deixam de olhar e até mesmo espichar o olho para ver o quê estamos escrevendo! Parece até que só seres alienígenas escrevem, tamanho o estranhamento das pessoas quando nos vêem com papel e caneta, anotando algo que não seja um número de telefone ou o endereço onde se quer chegar.

Eu percebo que escrevo melhor sob o impacto das emoções, sejam elas boas ou más. Não necessariamente de acordo com as emoções, mas sob o impacto delas. Nem sempre em um momento feliz escrevo uma história triste ou vice-versa. Às vezes, em um momento triste, escrever uma história feliz traz alívio imediato.

Escrever é, de certa forma, representar.
Um escritor é um ator que experimenta todos os papéis.

No papel, podemos amar, morrer, matar, nos vingar, sobreviver, ressuscitar, perdoar, renascer. “O papel aceita tudo”. Que bom, não é mesmo? Podemos ser outros, sem deixar de sermos nós.

Para escrever, preciso ter um líquido emocional com o qual brincar e mexer... Como uma bruxa em seu caldeirão... É necessário um caldo emocional para transformar em palavras.

Em épocas de secura emocional, escrevo menos. Sob o impacto de emoção nenhuma, escrevo zero (se é que consigo ficar mais de um minuto sob o impacto de emoção nenhuma!).

Percebi, há uns tempos atrás, quando me pediram uns “favorzinhos” para escrever umas mensagens de forma meio burocrática... Que escrever sem emoção é tão árduo quanto qualquer outra atividade que se execute sem paixão.

Eu ando escrevendo mais.
As músicas que ouço no rádio, me inspiram.
Os livros que leio, me inspiram.
As conversas que escuto... Tudo o que vejo...
Determinadas palavras, quando eu ouço, dão um estalo.
Algumas histórias, quando me contam, eu penso “isso não é vida, isso é literatura”.
Algumas coisas que eu sinto, transformo, remendo e escrevo.
Quando sinto qualquer tipo de incômodo emocional... Eu escrevo!

Escrever é uma forma de transbordar.
Quando estou sentindo demais, os sentimentos têm que sair de algum lugar.
Que saiam dos dedos então, sobre o teclado.
Que saiam catalisados e algumas vezes até camuflados, mas que não fiquem dentro de mim.
Que não sejam só meus, senão explodo.
Quando escrevo, sou eu de verdade. O resto é tudo ficção.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Está chegando a Páscoa... Que nos remete a renovações... Mudanças...



DE FORA PARA DENTRO

Uma amiga indicou
Mude de fora para dentro
Muita gente já testou
E deu certo

Mude as condições
E as circunstâncias
E as emoções
Em última instância

Faça o de fora dar certo
Que depois vem o de dentro
E você estará mais perto
Do seu centro

Mudar o mundo primeiro
E o coração depois
Em um tiro certeiro
Dá certo, pois

domingo, 5 de abril de 2009

Interrogatório 2

Estou com o BLOG no ar há mais de um mês... E tem sido uma experiência incrível.

Em primeiro lugar, por levar à público tudo o que eu sempre escrevi e na maior parte das vezes, só eu mesma li.

Depois, porque a receptividade tem sido boa, as pessoas têm gostado e comentado.

As perguntas sobre o BLOG continuam.

Uma amiga perguntou se eu não tinha medo de críticas negativas. Eu disse que não! Cada um tem direito de ter a sua opinião... E as críticas não me amedrontam, ainda que eu tenha recebido, até hoje, só elogios (só os amigos têm acessado, hehehe!).

As pessoas perguntam ainda por que eu escrevo.
A única resposta que tenho para essa questão é outra pergunta: como é que nem todos escrevem???

Eu fico me perguntando como as pessoas que não escrevem suportam a vida.

Depois, observando bem, percebo que umas correm, outras rezam o terço, algumas se aventuram a pular de pára-quedas, outras ainda vivem a encher a cara. Umas cantam, outras dançam, cada ser humano tem uma forma de extravasar.
Eu escrevo para sobreviver.

Continuam me perguntando... Se as minhas histórias são verídicas!
Não, não são!
Ou melhor, são parcialmente.
São resultado de tudo o que vivo e ouço por aí, de forma bemmmm modificada.
Tem gente que transforma a raiva em úlcera, o medo em pesadelos, a alegria em gargalhadas espalhafatosas.
Eu transformo tudoooooo em textos, é uma boa terapia.

De onde saem as minhas idéias?
De todos os cantos!
De tudo o que vejo, leio, ouço e vivo!
Reuniões de trabalho bemmmmmmm longas e bemmm chatas me inspiram!
Viagens de carro, letras de músicas, livros, poemas, as pessoas que eu vejo na rua...
Todos os dias tenho alguma ou algumas idéias.
Anoto tudo em papéis e depois, quando tenho tempo, desenvolvo uma a uma.

A pergunta que eu mais ouço é onde arrumo tempo para colocar os posts.
De um modo geral, tenho procurado colocar um post por dia (sim, esse final de semana, "dei o cano" dois dias... Motivo: cansaço!!!), ou melhor, um post por noite.
Tenho tentado priorizar os posts, por isso tenho lido menos e escrito menos.
Mas tem valido a pena!

Boa semana a todos os meus leitores!
Bjos,
Tereza

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Convalescença


Depois de um ano e cinco meses...
... 11 livros de auto-ajuda...
... 08 frascos e ½ de floral...
... 05 caixas de Prozac...
... 53 sessões de terapia...
... Eu me curei de você, da sua presença e da sua ausência, de tudo o que você trouxe e levou na minha vida.
Por favor, não reapareça: a convalescença pode ser pior do que a doença!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ser... Humano?

BONECO DE PANO

Seja forte
Seja esperto
Seja grande
E completo

Mas seja sempre
Tão humano
Quanto um boneco
De pano!

terça-feira, 31 de março de 2009

Censo


Vou dar uma de recenseador, sem crachá nem nada. Vou passar de casa em casa perguntando o que a pessoa pensa que é a vida, como ela vai de amores, se ela escreve poemas, qual a sua comida predileta. "Para qual time você torce? O que você vai fazer amanhã? E depois de amanhã? E no ano que vem? Lê jornais com freqüência? Qual a última vez que foi ao cinema e qual o filme que assistiu? Qual seu livro de cabeceira? Fuma? Cigarro? Cachimbo? Charuto? Maconha? Já teve catapora? Qual a piada mais engraçada que já ouviu na vida? Acredita em Deus? Você pode assinar aqui pra mim, por favor? Obrigada e tenha um bom dia. Passar bem".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Nada


Eu...
E que serei eu, nesta vida?
O que delimita o que é mundo, o que sou eu?
Qual o limite exato entre o que sou e o que jamais serei?
Qual a célula de mim que faz fronteira com uma célula do mundo, que não me pertence?
Se é que algo me pertence e não o contrário: eu que pertenço a algo.
Não, não é possível ter tudo. E nem sequer a metade.
É possível ter apenas um fragmento do mundo e olhe lá: mesmo ele pode nos escapar das mãos a qualquer momento.
Não é possível ter todos: não é possível ter ninguém.
Cada qual pertence a si só, exclusivamente.
Não é possível ter bom senso e nem felicidade, mas é necessário persegui-los como se possível fosse.
Nem é possível ter um amor: só o que é possível é estremecer na presença de um certo alguém.
Todas as possibilidades são impossíveis: são apenas tentativas vãs de concretizarem-se.
Não é possível ser muito e nem tampouco ser nada: é preciso existir, querendo ou não.
Querer não conta. Existir ou não está acima de qualquer desejo.
O mundo é tão cheio e vivemos tão vazios.
E o vazio dói uma dor ambígua: plena e ao mesmo tempo oca, que preenche e corrói.
Cheios doemos menos. Por isso estamos sempre absorvendo tudo quanto nos aparece: quando cheios, as dores reverberam menos. Há pouco espaço para o eco.
Viver consiste em encher o cérebro com tudo o que o mundo pode oferecer: idiomas, notícias, conhecimentos diversos e hábitos repetitivos. Cheios, absorvemos melhor os impactos - os estragos são menores.
Viver consiste em encher o coração com tudo o que se puder experimentar: seja alegria, seja tristeza, seja candura, seja dureza.
Viver não é nada mais do que se encher de mundo de forma a camuflar-se.
E no final, dá nisso: nunca sabemos o que somos nós e o que é mundo.
Nunca sabemos nada.

domingo, 29 de março de 2009

One more...


TO KILL THE LOVE I FEEL

I´ve tried to find a way
But there´s no escape
If I know where could I go
Afraid

To kill
With the hand
The love I feel
Untill the end

In my hard
And heavy
Heart
So Unhappy

sábado, 28 de março de 2009

Vá embora


Agora, por favor, vá embora.
Você já me trouxe tudo o que podia.
Já me trouxe o novo e o velho.
Já fez com que eu desse o meu melhor, ao menos para impressioná-lo.
A partir de agora, tudo seria reprise.
Tudo seria prolongar o sofrimento.
Eu já sinto que você me escapa por entre os dedos.
Vá embora de uma vez, não te quero ver partindo.
Pode ir que eu me agüento.
Antes de saber da sua existência, eu vivia.
Pode ir que vai dar certo.
Não vai me faltar ar e nem cobertor.

Quem troca?


TROCA

Troco uma tonelada de paixão
Que é puro sentimento
Por um grama de razão
Para acertar o pensamento

Quem ficar interessado
Por favor, entre em contato
Estou tão determinado
Que troco tudo no ato

E se uma tonelada for muito
Posso dar um pouco menos
Para evitar curto-circuito
Em corações mais amenos

quinta-feira, 26 de março de 2009

A hora sagrada das refeições


- Como você não vai comer alface?
- Não vou e pronto! Não quero alface.
- Está cada vez mais difícil de se fazer comida nessa casa! Onde já se viu não comer alface! Faz tão bem! Eu tenho saudades de quando vocês eram pequenos e comiam de tudo. E eu que achava que eram as mães que não ensinavam os filhos a comerem direito...
- Tem razão a mãe de vocês. Lúcia, eu já falei, quem não gosta não come, não tem essa de fazer comida diferente! Olhem aqui, crianças, eu como alface, estão vendo só?
- Mas não toma sopa de legumes, o que dá no mesmo! A mamãe nunca faz sopa de legumes quando você está em casa, já alface tem todo dia!
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra! Sopa de legumes me ataca o fígado.
- E pimentão recheado com brócolis?
- Aumenta o meu colesterol!
Pai e filho mais velho discutindo, a mãe se entupindo de alface para não desperdiçar, a filha do meio resolveu se posicionar:
- Pior de tudo quando tem peixe e eu tenho que suportar aquele cheiro horrível! Bife, então, nem se fala!
- Só porque você é vegetariana você acha que todo mundo tem que jantar cenoura com beterraba? - retrucou o irmão.
- Carne faz mal, além de que, imagine o animal morrendo, a carne dele sangrando... Que nojo! As tripas do animal, o intestino...
O filho mais velho correu para o banheiro para vomitar o bife que estava mastigando. A mãe advertiu a filha do meio que aquelas coisas não se diziam durante as refeições, enquanto o pai engolia o bife para não dar o braço a torcer.
A mãe prosseguiu com o discurso do alface, que agora incluía pepinos e tomates.
O pai, de boca cheia, resmungou qualquer coisa sobre o regime da filha e o filho resolveu fazer um sanduíche (só com queijo).
A discussão continuou porque a filha não queria repetir o arroz com lentilha - justo lentilha, que tem tanto ferro e era tão importante para ela porque já não comia carne.
Em meio a tanta discussão, a mãe falara que não ia mais fazer comida, já que ninguém comia mesmo, e assim poderia assistir a novela das sete, que sempre quis ver mas nunca pôde, já que estava sempre atarefada na cozinha neste horário.
O pai reclamou que ela gastou um dinheirão no curso de culinária e ele não podia comer porcarias por causa do fígado sensível.
A filha do meio levantou-se dizendo que a chamassem na hora de lavar a louça, enquanto o filho mais velho recusou também a salada de frutas.
O pai disse que trabalhava o dia todo e na hora de reunir a família para uma refeição era isso que acontecia. E ainda completou:
- No meu tempo não era assim! Nós inclusive fazíamos uma oração em agradecimento ao alimento que estava na mesa. Mas hoje em dia ninguém mais dá valor a nada mesmo! Nem à comida, nem à família...
A mãe estava a ponto de meter a cabeça no forno ou fazer mal uso da faca, mas ainda restava uma folha de alface em seu prato.
A única pessoa que permanecia inalterável em meio aquele escândalo - sim, porque agora a mãe chorava culpando-se por não saber fazer bobó de camarão - era a filha mais nova, feliz da vida por ninguém ter ainda percebido que estava comendo lentilha com catchup.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Vamos lá




Movimento de rotação. Dia. Noite. Dia. Noite. Movimento de translação, entra ano, sai ano, entra ano. De novo. E a gente nem percebe, mas essas coisas mexem com a gente. Quando dizem que o mundo dá voltas, é literalmente, não apenas em sentido figurado. Assim como a gente muda, às vezes loucamente, nem percebe. Assim como entra e sai estação, como começam e acabam as fases da lua e a gente nem nota. Ninguém nem vê o andar dos ponteiros do relógio. Vamos apenas indo, seguindo, continuando, no fluxo, na inércia. Vamos sem saber para onde e sem saber porquê. Vamos apenas.

terça-feira, 24 de março de 2009

Poema escrito em parceria!


Com o meu grande amigo José Antônio Rodrigues Porto:

CURA DA PAIXÃO

Descoberta
A cura da paixão:
Dois copos de cicuta
Com gotinhas de limão!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Segunda-Feira é F%#@!!! Fogo!


TELEFONE

A minha cabeça está cheia
De histórias inteiras
E de palavras soltas
Além de números de telefone
E senhas mil
E caminhos, roteiros
Para lá e para cá

Está cheia ainda
De datas e dados
E outras coisas que não posso
Jamais esquecer

Mas o telefone toca
(E como toca!)
Diriam alguns: é para isto que serve, afinal
Sinal de que não tem problemas de fabricação

Eu, cá comigo, penso
Tem o defeito de servir e funcionar
Tocando sem parar
E nem deveria se chamar telefone
Mas sim, "insolente"
Com seu toque estridente
E sua mania intransigente
De me manter acessível para o mundo

Enquanto os meus fragmentos
Clamam por atenção exclusiva
Um pouco de ordem
E quem sabe até... Paz...

domingo, 22 de março de 2009

Poeminha de domingo!


CASULO

Poemas nascendo
São como borboletas
Saindo do casulo:
Fazem cócegas pra burro!


sábado, 21 de março de 2009

To my international visitors...

PAIN

Oh!
It´s the pain
Again
When
I tought
It was lost
Somehow
Somewhere
So far
From there

Post da madrugada...


EM MIM

Nada do que existe
Em mim
É inédito

Mas o que persiste
É assim
Ganha crédito

E se fica até o fim
Já aviso
É inóspito

quinta-feira, 19 de março de 2009

As duas meia-faces de uma professora de matemática


Suas aulas eram um problema sem solução:
Todos queriam dividi-la ao meio;
Seu mal tinha raiz cúbica;
As broncas eram multiplicadas;
Os pontos negativos somados;
As notas subtraídas e
por não se poder usar calculadoras, as cabeças fundidas.
A potência de sua cabeça era zero, de expoente um.
Segundo ela, os alunos eram “um parêntese difícil de se resolver”.
Enquanto falando em porcentagem, o resultado era unânime: cem por cento de chatice para cem por cento dos votos.
De todas as incógnitas, a maior era sobre as equações, muitos duvidavam que ela tinha o primeiro grau completo.
Outros achavam que ela não simpatizava muito com os números naturais, pois só comia enlatados em conserva.
Sobre os números inteiros, achavam-na de inteira implicância, e dos racionais, era o oposto: totalmente irracional.
Talvez por sua dificuldade em se expressar, ninguém entendia direito expressão.
De negativo tinha tudo, segundo uns.
Era um zero à esquerda, na opinião de outros.
Sua morte foi outra incógnita: provavelmente um aluno reprovado seria o assassino, mas essa era uma dica fria, pois nenhum se salvara da recuperação.
Morreu dividida em dois, como todos queriam.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Vida eterna


Todos os jornais anunciavam a fantástica notícia de que naquele dia não morrera absolutamente ninguém em todo o mundo, fato inédito e inacreditável.

A surpresa atingiu toda a população, em especial pessoas como Petrônio, que achavam a morte (mais especificamente a delas) era um grande desperdício - não conseguiam imaginar o mundo sem as suas fabulosas presenças.

Petrônio julgava-se de fundamental importância para o bom andamento das relações humanas e do planeta em geral e que, conseqüentemente, a única forma cabível de agradecimento divino era a concessão da imortalidade para ele.

Por isso não gostou do fato de não morrer ninguém naquele dia: em sua modesta opinião nem todos faziam por merecer tal dádiva.

Algumas pessoas brincaram dizendo que Deus estava em férias, outras rezaram preces de agradecimento e alguns até pediram para morrer um dia.

Assassinos de plantão em busca dos seus cinco minutos de fama não faltaram, mas na verdade nenhum deles conseguiu estragar um dia tão diferente.

O Presidente da República falou em cadeia nacional que a saúde pública estava melhorando, a violência estava diminuindo e o uso obrigatório de cintos de segurança estava dando bons resultados.

Joãozinho, por sua vez, achou uma grande injustiça dizerem que não havia morrido ninguém se morrera a sua tartaruga de estimação, até sua mãe explicar que a situação era diferente.

Nesse dia a grande maioria da população dormiu um sono tranqüilo, acompanhado de um sorriso de paz no rosto.

Outro dia amanheceu e não se falava em outra coisa: era imortalidade por todo o lado.

À medida que o tempo passava, aumentavam ainda mais as expectativas. Será que alguém morreria naquele dia?

À meia-noite o plantão da televisão informava que aquele era mais um dia sem a ocorrência de nenhum óbito, aumentando ainda mais o falatório.

As pessoas agora falavam sobre o apocalipse; padres, freiras e teólogos procuravam uma explicação para o ocorrido.

O Papa preferiu não se manifestar, mas uma cartomante disse alguma coisa sobre o valete de paus e o fim da violência.

Mães e pais de santo agrdeciam aos Orixás, os astrólogos explicavam tudo pela posição de Marte em relação ao Sol e os psiquiatras acreditavam que o aumento no uso de anti-depressivos ajudaram a diminuir bruscamente os índices de suicídio e violência.
Já no terceiro dia esse negócio de ninguém mais morrer estava perdendo a graça: ninguém mais acreditava que a professora de matemática morreria antes da prova, por exemplo.

Políticos de todas as nacionalidades prometiam prosseguir lutando pelo povo, agora não mais pelo resto de suas vidas, mas "para todo o sempre".

Os médicos estavam divididos: enquanto alguns atribuíam tudo aos avanços da medicina, os médicos legistas não viam graça em nada daquilo, já estava ficando maçante não fazer nada o dia todo.
Em todo o globo as idéias de suicídio aumentavam proporcionalmente ao tédio; o que os filósofos achavam perfeitamente normal, tendo em vista o imesno vazio interior que a imortalidade trazia.
Petrônio começava a achar que se Deus realmente tivesse alguma dívida para com ele esta deveria ser paga com a morte, para diferenciá-lo dos demais.
Idealistas de todo o planeta previam imensos desastres ecológicos e acidentes de trânsito; enquanto os terroristas mais ousados planejavam chacinas e rebeliões.
O mundo estava na mais entediante paz.
Foi quando o Papa pensou em sacrificar-se em nome da humanidade, quem sabe até numa cruz, mas por fim achou que seria contra os dogmas da Igreja.

Os maiores problemas estavam na China, onde a superpopulação estava ainda mais super.

Os geógrafos não estavam acostumados a falar de natalidade sem a mortalidade, era tudo muito estranho.
Mas claro, chegou um dia em que alguém teve que morrer.

E vários morreram juntos, de fome.

A começar pelos coveiros e donos de funerárias.

terça-feira, 17 de março de 2009

=)


FELICIDADE

De forma
Bem constante
Já não julgo
Importante
Ser feliz
A todo instante

Mas ainda mantenho
Um desejo
Ligeiro
De ser feliz
Por inteiro

segunda-feira, 16 de março de 2009

Sonhos


Quem o autorizou a entrar nos meus sonhos?
Assim, na calada da noite.
Enquanto eu sonho acordada você está sempre presente, já sei, já me conformei.
Mas em meus sonhos noturnos, quando quero sossego?
Quando estou de pijama, sem maquiagem, sem salto, sem perfume?
De noite, quando tudo o que eu quero é um pouco de paz?
Quando tudo o que eu quero é esquecer que você existe, para lembrar um pouco que eu existo também?
Aparecer em meus sonhos... Ah, quanta ousadia!
Se ao menos você pudesse também, aparecer ao vivo e em cores, nem que fosse uma vez por semana...

domingo, 15 de março de 2009

Felicidade



Viver bem consiste em ser feliz na medida certa: no ponto em que tudo está em paz, mas a alegria não escapa por entre os dedos, doendo no peito e brilhando nos olhos.
Felicidade demais dói.
Felicidade indolor tem que ser como a água: incolor, do tipo que ninguém nota.
Felicidade demais nos tira o sono, nos tira a fome, nos tira a paz.
Felicidade demais é insalubre.
Quero, para mim, uma felicidade tamanho M, por favor!

sábado, 14 de março de 2009

A química do amor


Assim que Ag e C se conheceram, eles logo souberam que eram reagentes-metade e haviam sido feitos um para o outro. Quando eles se olharam pela primeira vez saíram raios iônicos de seus olhos. Foi o que pode se chamar de reação à primeira vista.

O namoro teve diversas fases. Com o passar do tempo o relacionamento foi se solidificando e então aumentaram as pressões para que oficializassem essa reação.

Ele, em um grande gesto de amor, deu-lhe uma aliança de Au, ela ficou super emocionada. Era uma prova de que eles iriam compartilhar todos os seus elétrons.

A cerimônia de casamento foi marcada para dali algumas semanas, no Erlenmeyer. A lista de convidados foi feita a partir da tabela periódica, só seriam convidadas pessoas de família, e como o noivo era de muita solubilidade a imprensa daria algumas notas a respeito na coluna social.

Ela até fez um regimezinho para diminuir o seu número de massa e entrar no seu vestido de noiva, de modelo atômico. Ambos irradiavam felicidade e radioatividade por todos os prótons, haviam finalmente descoberto a fórmula do amor.

Casaram-se em comunhão total de elétrons, numa cerimônia que tinha átomos como padrinhos e moléculas como madrinhas, todos vestindo trajes leves devido à grande calorimetria do verão.

Os noivos estavam fora de orbital, especialmente porque passariam a lua-de-mel no diagrama de Pauling.

Ag tinha planos de ter muitos molzinhos e sonhava com as suas bodas de prata.

Na volta da viagem retomaram a vida normal: ela, atriz, passava grande parte do tempo em seus tubos de ensaio; ele, advogado, estudava a fundo as leis de Hess, Dalton, Proust, Lavoisier, Charles, Boyle - Mariotte, Gay - Lussol e Avogrado.

Ele dizia que tinha um milhão de nêutrons a mais que ela, mas ela nem ligava, ambos eram bastante inteligentes.

Havia, é claro, algumas diferenças básicas de personalidade: ele era muito radical, reativo e tinha problemas de gases. Ela queria tornar-se um fenômeno químico no teatro, e caráter metálico para isso não lhe faltava.

A alimentação deles era composta basicamente por substâncias simples, e ele também tinha funções inorgânicas nos serviços domésticos.

Até que um dia, por haverem desprezado o princípio da conservação de energia, houve um desgaste natural. C disse que ele era hipertenso e que aquela reação estava muito cheia de NaCl. Houve uma dupla troca de insultos:

- Você é uma cinética!
- Seu carbogeste!

Ela estava muito brava e passou toda a semana com um enorme bico de Bunsen, em profunda ebulição.

O casamento deles não era mais uma base sólida, a estequiometria existente entre eles parecia chegar ao fim.

Ela descobriu que o tempo todo ele a enganara: era tetravalente e tinha três outras ligações. Seu mais recente caso era com uma substância que de pura não tinha nada.

Ele agora era um alcoólatra, não vivia sem CH3OH. Até que um dia, após misturar bebidas fermentadas e destiladas, dirigindo bêbado e em movimento Browniano, causou um enorme acidente, atropelando e matando um hidrôgenio. Sua vida mais parecia uma usina nuclear, tinha explosões de raiva a todo instante.

O casamento deles era uma reação reversível, a solução encontrada foi uma separação por cristalização. Houve algumas discussões quanto à divisão das propriedades elétricas, ambos queriam ficar com o Ra.

Ag chorou muitas lágrimas de H2O, sua vida perdeu o brilho e ela recuperou o seu antigo número de massa. As coisas estavam literalmente pretas para ela.

C foi preso e condenado a dez anos de cadeia carbônica saturada, seus conhecimentos de leis não foram suficientes para salvá-lo.

Com o tempo acabou ficando amigo de um ciclano com quem veio a ter o primeiro relacionamento homogêneo da sua vida.

A vida de Ag teve uma enorme variação de entalpia, mas por mais que negasse, os sentimentos dela por C não haviam se evaporado por completo.

Ela conheceu diversos isóbaros, isótopos, isótonos e isoeletrônicos, teve diversas experiências, algumas até com cátions e ânions. Um de seus namorados deu-lhe até um anel benzênico, mas não adiantou.

Seu coração estava muito machucado, com apenas 25 anos teve que fazer uma ponte de hidrogênio.